Sob a direção de Breno Viotto Pedrosa (UFRGS) e Fábio Contel (USP)
O objetivo do presente dossiê é reunir pesquisas que elucidem as histórias das geografias universitárias no Brasil e no mundo, que considerem seus processos de fundação, institucionalização e as interações dessas geografias com os aparelhos educativo e administrativo do Estado, entre outras questões. É bem conhecido o fato de que na passagem do século XIX para o XX se observou um movimento generalizado de criação de cursos de geografia nas universidades, muitas vezes sob o fomento de projetos de modernização territorial, de transformação da arquitetura administrava do Estado, e outras vezes em cooperação com estruturas tradicionais preexistentes, como sociedades geográficas ou congêneres.
Além de tratar das origens, o dossiê busca também abarcar os diversos períodos e transformações que tais instituições sofreram, compreendendo que, para o campo da geografia, as universidades passaram a ter protagonismo na produção e reprodução do capital cultural dos geógrafos ao redor do mundo. Bourdieu (2011; 2023) destaca a dominação simbólica exercida no âmbito científico que leva a uma valorização maior da ciência produzida pelos agentes hegemônicos (cultural e economicamente) e ressalta a tendência do campo a se internacionalizar, mesmo que a escala nacional continue a ter importância na produção do capital cultural, ao sancionar os títulos acadêmicos.
A perspectiva da história institucional que ora se propõe busca também estabelecer um contraponto às análises que retratam o intelectual estrangeiro como o grande edificador do campo, aspirando uma história do coletivo sem deixar de reconhecer as relações de dominação simbólica da produção científica e suas injunções locais. Fazer história da geografia deveria ser antes de tudo um exercício de reflexão sobre nossa práxis intelectual na universidade. Em um mundo da razão única, dos rankings e das métricas quantitativas, nos esquecemos que a posição das universidades é antes de tudo uma construção histórica, um processo complexo de disputas políticas e epistemológicas, que mobiliza a sociedade e a comunidade científica. Só é possível pensar uma política científica e um altivo processo de internacionalização conhecendo a história dessas geografias, que muitas vezes são esquecidas, ou subdimensionadas.
Sugerimos aos interessados os seguintes temas de pesquisa:
– A história da formação dos cursos de Geografia nos países centrais e periféricos. Influências intelectuais e matrizes nacionais. Intercâmbios acadêmicos e circulação do conhecimento.
– A relação entre universidade, sociedades geográficas e órgãos do Estado, como ministérios ou institutos especializados (IBGE, IPEA, etc.). “Diletantes”, acadêmicos e técnicos na formação do campo geográfico.
– As instituições universitárias como arena de cooperação e divergência entre disciplinas. A constituição do campo disciplinar e a luta pelo reconhecimento científico.
– Geografia acadêmica e geografia escolar. Ensino público e formação do campo geográfico. A suposta “tradução” escolar do conhecimento acadêmico. A relação entre geografia universitária e geografia escolar na discussão e formação de parâmetros educacionais.
– A relação entre a geografia universitária e o planejamento regional e urbano, na escala municipal, regional e/ou nacional. A instrumentalização (ou aplicação) do conhecimento geográfico acadêmicos em políticas de governo.
– Mutações das geografias universitárias: como as revoluções simbólicas, grandes transformações sociais e/ou os contextos locais afetaram a geografia universitária.
– Pioneiros e retardatários: condições, contextos e projetos dos primeiros cursos de geografia e dos mais recentes. Diferenças regionais na constituição das geografias universitárias.
– Distinção, reconhecimento e dominação: a hierarquia das instituições do saber e as relações
centro-periferia em âmbito nacional e mundial.
Os trabalhos devem ser enviados até 31 de Julho de 2024 e podem ser orientados para todas as seções da revista Terra Brasilis, seguindo os respectivos critérios de formatação de cada seção. Sobre as demais seções da revista, consulte: https://journals.openedition.org/terrabrasilis/3451.
As normas de formatação estão disponíveis em: https://journals.openedition.org/terrabrasilis/3441.
A publicação dos textos está sujeita à arbitragem científica, através do sistema de double blind peer review. Não está garantida a publicação dos textos até estar concluído o processo de seleção e revisão.
As dúvidas e esclarecimentos devem ser encaminhadas para: Breno Viotto Pedrosa (brenoviotto@hotmail.com), Fábio Contel (fbcontel@usp.br) e Revista Terra Brasilis (terrabrasilis@redebrasilis.net)
Data limite para a recepção de trabalhos: 31 de Julho de 2024.